Com os meus olhos de menina, vi o Mundo desfraldar-se à
minha frente.
Primeiro com espanto, depois com encanto, depois com alguma
surpresa.
Quando comecei a ser mulher, com alguma decepção.
Os meus olhos de menina viam o mundo às cores.
As cores do arco-íris.
Tinha o brilho do sol e tudo para mim era luz.
Vivi aqueles anos apressada.
A minha pressa de viver era como um Cadillac que corre numa
auto-estrada de quilómetros sem fim.
Eu era a estrelinha ao encontro do futuro.
Quanto mais andava, mais descobria e me encantava.
Desejei que o futuro fosse logo ali.
De repente, aquele mundo que eu
descobrira e que me inebriara ficou nublado.
Foi o início de uma grande decepção.
O mundo que eu descobrira, me encantara e que admirei tanto,
afinal estava a ficar sem luz.
Havia no ar uma neblina inesperada, que prometia dias
escuros e sem brilho.
Deixei de me sentir menina.
Ingénua.
Crédula.
Foi-me difícil aceitar o inverso daquele que, até então, tinha
sido o meu mundo e que, aos poucos, se revelou bem diferente.
Mentiroso, hipócrita, invejoso, ganancioso e sem afectos.
E o sol?
E o brilho?
E as cores?
E o amor?
Onde pára tudo isso?
Mas… afinal, esse mundo sempre esteve lá.
Eu é que, com a minha ingenuidade, pressa e alegria de
viver, não o
quis ver.
Foi grande a decepção.
É difícil a adaptação.
Os olhos de menina deixaram de ser ingénuos.
São olhos de mulher.
Atenta, observadora e que questiona.
Aqueles olhos de menina perderam-se na escuridão do mundo.
Abraço.
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