Lembro-me que, aqui há muitos anos, o mês de Janeiro era considerado
o mais frio do ano.
Nem Dezembro, o mês do Natal, o suplantava.
Era em Janeiro que as chuvas, os ventos gelados e a neve nos
visitavam com maior probabilidade.
Era durante esse mês que as intempéries nos obrigavam a fazer
uma vida mais retirada e caseira.
As noites ainda grandes eram passadas, sempre que era
possível, junto da família à lareira.
Lá fora, a chuva fustigava as vidraças com bátegas fortes.
O vento assobiava e às vezes ameaçava arrancar telhados e
paredes mais frágeis.
Eu aninhava-me mais ainda no meu banco junto de minha mãe,
que me acolhia, protectora.
As conversas aconteciam naturalmente.
Às vezes em surdina.
Não fosse o temporal enfurecer-se mais ainda.
As estórias eram uma forma de passar o tempo e às vezes
disfarçar o medo.
A lareira era inspiradora.
Eu, sempre atenta, absorvia as palavras e os gestos.
Aconteceu algumas vezes ir para a cama a olhar para todo o
lado, pois os conteúdos nem sempre eram muito tranquilos.
Histórias de ladrões e outros temas similares não faltavam.
Acontecia também, ao outro dia de manhã e quando eu ainda
dormia um sono reparador, a minha mãe chamar, ao mesmo tempo que dava a notícia
tão aguardada:
«Está a nevar! Depressa, vem ver»!
Como que com medo de que a neve fugisse sem ser vista.
Tenho saudades desse espectáculo magnífico - algo parecido com o da foto.
Ainda hoje tenho na minha memória a beleza de uma aldeia
coberta de neve.
Vão muito longe esses invernos rigorosos e às vezes
perturbadores.
É por isso que não consigo vislumbrar este mês de Janeiro,
que se apresenta como se de Primavera se tratasse.
Não fosse o frio nocturno, e diria que estávamos em Abril ou
Maio.
Como os tempos mudaram!
Até no tempo.
Resta aguardar e ver se o ditado antigo ainda tem razão de
ser:
«Janeiro quente traz o diabo no ventre»
Abraço.
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