sexta-feira, 1 de julho de 2011

Que os houve, houve














Desde sempre me dei conta que meu pai tinha uma aversão forte contra os padres.
Eu própria «sofri» na pele o resultado dessa aversão.
Fui algumas vezes proibida de participar em actividades organizadas pela igreja, porque era o padre que orientava.
Ainda assim, remei muito contra a maré.
Gostava de participar e acompanhar as minhas amigas, não me sentia bem se ficasse de fora.
Foi o único tema que me levou a ter confrontos com o meu pai.
Ainda era muito jovem e não entendia o porquê daquela relutância.
Um dia o meu pai abriu-se.
Creio que precisou de justificar as atitudes de força.
Foi aí que eu percebi.
O meu pai era neto de um padre.
O meu avô paterno tinha sido gerado por um padre.
Para ser mais correcta, era filho do arcipreste, o que na hierarquia da igreja, era mais que padre.
Seria quase bispo.
Era conhecido como o abade do Sabugal.
Daí a alcunha da família.
Toda a minha família era conhecida como «os abades».
Bom, mas o que mais revoltou o meu pai, foi como tudo aconteceu.
O meu bisavô padre engravidou três vezes a governanta que tinha lá em casa.
Duas filhas e um filho, o meu avô.
Então, como se isso não bastasse, decidiu cristãmente, perfilhar as duas pela calada.
Meteu-as num bom colégio em Coimbra, deu-lhes tudo o que precisavam e decidiu como homem «justo», que o rapaz não precisava destas mordomias.
Largou-o no mundo, e ele que se virasse.
Era homem.
Acho que o meu avô sofreu muito para se criar assim ao desamparo.
É claro que nunca esqueceu e transmitiu essa marca aos descendentes.
«O ministro de Deus» ficou com a consciência pesada.
Nos últimos dias de vida, teve uns laivos de decência e tentou remediar ao mínimo a maldade.
Mandou chamar o meu avô.
 Qual quê?
O meu avô tinha o seu orgulho.
Não foi, negou-se redondamente.
A minha avó, mulher mais cerebral, foi.
Foi e trouxe uma compensação que não tinha nem pouco mais ou menos comparação com a riqueza que coube às filhas.
O meu pai era um homem que pensava.
Era justo e uma atitude destas, vinda duma figura que devia dar o exemplo de pessoa íntegra, marcou-o para sempre.
Eu, mais tarde, também fiquei marcada como é evidente
Este caso foi público, e os outros?

Abraço.

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