domingo, 31 de julho de 2011

Quem olha vê













Dando o meu passeio higiénico junto da baía do Seixal, apeteceu-me espreitar num pontão mesmo à beirinha da água.
É agradável a paisagem.
Vê-se a outra margem, observam-se as aves que na maré vaza procuram alimento.
Vêem-se os pescadores de amêijoa que, debruçados, procuram pacientemente o petisco apetecido.
E transpira-se calma e paz nos momentos em que se está.
Ao chegar, deparei com uma jovem mestiça, que, sentada de costas, apenas sugeria que descansava, que também ela estaria a precisar daquele ambiente tranquilo.
Sentei-me na ponta mais afastada (não queria perturbar).
Ao olhar à minha volta, reparei que a jovem, não estaria apenas a descansar, estaria também a tentar digerir qualquer desgosto (de amor?) que a estaria a atormentar.
Chorava convulsivamente, ao mesmo tempo que limpava as lágrimas que caíam, teimosas, e provavelmente queria que fossem só dela.
O meu primeiro impulso foi o de me levantar e perguntar se podia ser útil.
O meu bom-senso disse-me que poderia importunar a sua solidão e mágoa.
Nunca saberei ao certo o que teria sido mais correcto.
Nunca saberei o que se seguiu ao nosso afastamento.
Será que aquela jovem precisava de ajuda?
Incógnita eterna para mim.
Só sei que aquela imagem me irá acompanhar por algum tempo.
Esta sociedade fechada, fecha-nos mesmo quando precisaríamos de nos abrir para os outros.
Porquê tantos pruridos?

Abraço.

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